quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Louise Glück, Nobel da Literatura 2020

 Louise Glück, Nobel da Literatura 2020


Paisagem/3.

Nos fins do outono uma rapariga deitou fogo
a um trigal. O outono

fora muito seco; o campo
ardeu como palha.

Depois não sobrou nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.

Nada havia para colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –

Onde está o campo, parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.

Ninguém sabe responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.

É como perder um ano de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?

Mais tarde regressas ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.

Pensas: como pude viver aqui?

Mas na altura era diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.

Um único fósforo foi quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.

O campo crestado, seco –
a morte já a postos
por assim dizer. 

(Terceira parte do poema Paisagem, que integra o livro Averno, 2006. 

Tradução de Rui Pires Cabral, publicada em 2009 no n.º 12 da revista Telhados de Vidro

editada pela Averno)



Um poema de Louise Glück

April



No one"s despair is like my despair-


You have no place in this garden

thinking such things, producing

the tiresome outward signs; the man

pointedly weeding an entire forest,

the woman limping, refusing to change clothes

or wash her hair.


Do you suppose I care

if you speak to one another?

But I mean you to know

I expected better of two creatures

who were given minds: if not

that you would actually care for each other

at least that you would understand

grief is distributed

between you, among all your kind, for me

to know you, as deep blue

marks the wild scilla, white

the wood violet.




The Night Migrations

Louise Glück - 1943-


This is the moment when you see again

the red berries of the mountain ash

and in the dark sky

the birds' night migrations.


It grieves me to think

the dead won't see them—

these things we depend on,

they disappear.


What will the soul do for solace then?

I tell myself maybe it won't need

these pleasures anymore; 

maybe just not being is simply enough,

hard as that is to imagine.

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